Sobrecarga, pressão e assédio: áudios revelam situação de escrivã da Polícia Civil, Rafaela Drumond, encontrada morta

Aldair Divino Drumond, pai da escrivã Rafaela Drumond, 31 anos, disse ao Metrópoles que sentiu que sua filha ficou mais distante da família e mais triste desde o início do ano, mas que ela não chegou a contar nada sobre possíveis problemas no trabalho.

”Já tinha notado ela meio triste, parece que ela não queria que a gente ficasse sabendo de alguma coisa que estivesse acontecendo com ela”, conta Aldair Divino. Rafaela foi encontrada sem vida pelo pai no último final de semana, em Antônio Carlos, município de Minas Gerais. O caso foi registrado como suicídio. A jovem trabalhava como escrivã na Polícia Civil do estado e estava lotada no município de Carandaí.

A policial relatou casos de assédio sexual e moral, além de perseguição dentro da instituição em áudios vazados. O Sindicato dos Escrivães da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindep-MG) informou ao Metrópoles que teve conhecimento do caso na última semana, mas não revelou o teor dos relatos da vítima.

Sem saber o que estava acontecendo no trabalho da filha, Aldair Divino acreditava que a mudança de comportamento de Rafaela era devido à rotina de estudos, já que ela tinha o sonho de se tornar delegada de polícia.

”Foi um desespero total [encontrar Rafaela sem vida]. Eu não entendi o por que que ela fez isso. Qual motivo levaria ela fazer isso com a vida dela?”, afirmou Aldair.

Nessa segunda-feira (12/6), a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar as denúncias de assédio dentro da própria corporação. O nome de nenhum suspeito foi divulgado até o momento.

”Agora, a luta é pela dignidade da minha filha e pela dignidade de todas as mulheres que sofreram o que a minha filha sofreu”, declara o pai de Rafaela.

Aldair lembra que no ano passado, entre agosto e setembro, Rafaela chegou a receber uma proposta para ser transferida para outra cidade. No entanto, ela teria recusado porque tinha se adaptado ao município e ao local onde trabalhava.

”Teve a chance de se transferir. Então quer dizer que não tinha ambiente ruim [naquela época]. De janeiro para cá, houve essa transformação de comportamento”, lembra.

”Acho que ela procurou ajuda no lugar errado, conversou com a pessoa errada. Acho que ela procurou ajuda com algum órgão, como sindicato, e eles não apoiaram e ela pensou que ia perder a vida dela. Acho que ela pediu ajuda e ninguém ajudou”, lamenta o pai de Rafaela.

Busque ajuda

Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos ou tentativas de suicídio que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social, porque esse é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para o ato não ser estimulado. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.


Fonte: Marcos Frahm

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